Editorial da Folha de S. Paulo: Revolução 4.0

Desde que a palavra foi criada pelo autor tcheco Karel Capek em 1920, na peça "R.U.R. – Robôs Universais de Rossum", essas máquinas de dispensar trabalho humano abrem para o mundo duas perspectivas, uma radiante e outra sombria: produtividade e desemprego.

Essa é a própria história da tecnologia, em especial no modo capitalista de produção. A economia avança e incorpora ao mercado massas de miseráveis precisamente porque o recurso a maquinário amplifica a eficiência do trabalho.

A mecanização da agricultura libera mão de obra para a indústria. Esta, em seu turno de automação, cede espaço para o setor de serviços. Ainda assim, pode-se argumentar que uma coisa é complementar o labor humano e outra, diversa, é substituí-lo por inteiro.

Uma máquina de costura multiplica a produção de um costureiro, mas um robô-costureiro — como o Sewbot em desenvolvimento pela Softwear Automation, dos EUA — pode desempregar milhões nas fábricas-suadouros do sul da Ásia.

Oferece algum motivo para inquietação, ainda, a estimativa do Instituto Global McKinsey norelatório "Aproveitando a Automação para um Futuro que Funcione" de que cerca de 50% dos postos de trabalho no mundo são passíveis de automação.

No Brasil seriam automatizáveis 53,7 milhões de empregos, do total de 107,3 milhões. A mais vulnerável seria a indústria, com 69% dos empregos ameaçados; depois viriam hotelaria e alimentação (63%) e transporte e armazenamento (61%) — mostra de que nem o setor de serviços está imune.

Na China, seriam 395,3 milhões de postos de trabalho sob risco. Na Índia, 235,1 milhões. Nos EUA, logo acima do Brasil, 60,6 milhões.

A McKinsey assinala, contudo, que o ritmo da previsível eliminação de vagas pode variar muito, décadas, a depender de fatores como o custo da tecnologia, o preço da mão de obra, a disponibilidade de capital e a regulamentação do mercado de trabalho.

Existem no Brasil umas poucas instalações a se aproximar do conceito de indústria 4.0, que integra a produção das empresas a partir de sensores e equipamentos conectados em rede e com sua cadeia produtiva e comercial.

O grupo FCA usa 900 robôs em duas plantas (PE e MG) para montar alguns modelos Fiat, Jeep e Chrysler, mas não há muitos outros exemplos na modalidade 4.0.

Afinal, este é um país em que se inventa até legislação para preservar os empregos de frentistas de postos de combustível e de cobradores de ônibus, duas funções que há muito caminharam para a inevitável obsolescência nas economias mais dinâmicas.

(Fonte: Folha de S. Paulo)

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