Impasse no Estaleiro Atlântico Sul

SindMetal-PE diz que, pela primeira vez, o EAS deve atrasar salários. Empresa nega e diz que apenas remanejou a data

 

Com o destino incerto devido à falta de encomendas, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) pode atrasar o salário dos seus funcionários pela primeira vez na história neste mês. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal-PE), cerca de 3,7 mil trabalhadores só devem receber o salário de fevereiro no início de março e não no último dia útil do mês, como costuma fazer o empreendimento, que fica no Complexo Industrial e Portuário de Suape. "O EAS convocou os trabalhadores para uma reunião na semana passada e formalizou essa informação. Disse que a situação não está boa pela dificuldade de obter novos contratos e que, por isso, atrasaria os salários", revelou o presidente do Sindmetal-PE, Henrique Gomes.

Ele explicou que o atraso seria consequência da falta de caixa da empresa, que só tem encomendas até este ano; além da dificuldade de obter empréstimos financeiros. É que o EAS ainda estaria devendo R$ 2 milhões do financiamento tomado no início da sua construção ao Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES), o que dificulta a tomada de novos empréstimos.

Procurado pela reportagem, o estaleiro alegou que não haveria atraso, apenas um remanejamento de data. "O EAS adotou a medida de remanejamento da data de pagamento, dentro dos ditames legais, para ajustar as necessidades de caixa", diz comunicado, que reitera que outras medidas estão sendo adotadas para sobrevivência da companhia e manutenção dos empregos.

De toda forma, a mudança gerou apreensão entre os trabalhadores do empreendimento. "Em dez anos de operação, o EAS nunca atrasou os salários e nunca foi tão ruim de negociação. Neste ano, se negaram a reajustar até o vale alimentação e ainda tiraram a folga de pagamento. Nunca havia chegado a esse ponto", explicou o presidente do Sindmetal-PE, Henrique Gomes, dizendo que a preocupação atual dos trabalhadores é com a sobrevivência do estaleiro. "A informação de que os salários vão atrasar gerou muita revolta, mas também incerteza. Ficou o medo de que o estaleiro feche ou entre em recuperação judicial e, por isso, não pague os trabalhadores", disse Gomes, lembrando que as atuais encomendas do estaleiro só geram trabalho até este ano.

Hoje, o Estaleiro está concluindo as últimas cinco embarcações da série de 15 navios que foi encomendada há alguns anos pela Petrobras. Segundo o Sindmetal, dois navios do tipo Alframax já estão quase prontos. Outro estaria na metade do processo de fabricação. E os dois últimos já teriam sido iniciados. Por isso, a equipe que trabalha na etapa inicial da produção – a fase de corte de chapas – pode ficar sem trabalho a partir de setembro, caso o Estaleiro não consiga novas encomendas. E a sensação é de que isto realmente pode acontecer.

Afinal, com a crise desencadeada pela Operação Lava-Jato, a Petrobras não fez novas encomendas para o estaleiro. E as tentativas de negociação com a iniciativa privada e com governos estrangeiros não têm apresentado bons resultados. Há cerca de quatro meses, o EAS até disse estar negociando a contratação de duas embarcações com a Inglaterra. Até agora, no entanto, este negócio não foi fechado.

 

Fonte: Escrito por: Marina Barbosa, da Folha de Pernambuco • Publicado em: 26/02/2018 – 10:27

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