O que derrubou nota do Brasil foi o golpe, não a Previdência
Sem os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência, o governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (MDB-SP), que pretende colocar a nova proposta na pauta da Câmara dos Deputados no dia 19 de fevereiro, recorre a todo e qualquer tipo de terrorismo e propaganda enganosa para tentar convencer a opinião pública de que o desmonte da Previdência é necessário para fazer o Brasil voltar a crescer.
Desde a semana passada, interlocutores do governo relacionam a aprovação da reforma ao rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, como se uma estivesse diretamente relacionada à outra. A estratégia, baseada no terrorismo e na mentira, quer vender à população uma falsa necessidade de reforma da Previdência, que retira direitos da classe trabalhadora e dos brasileiros mais pobres.
Além disso, o governo pretende produzir material impresso sobre a reforma da Previdência para distribuir em toda a cadeia de varejo do país, como farmácias e padarias, como parte de uma nova ofensiva de comunicação baseada em informações distorcidas e falsas, evidentes nas declarações feitas nesta segunda-feira (15) de que a nova Previdência não atingirá os mais pobres e que a reforma pretende combater privilégios.
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, o rebaixamento da nota é compreensível, mas está longe de ter qualquer relação com a reforma da Previdência. “Foi o golpe que derrubou a nota do Brasil”, sintetizou
Segundo ele, foram as crises política, econômica e institucional – consequência do golpe de Estado que retirou uma presidenta legítima do poder – e a falta de uma política econômica sólida, de um projeto de desenvolvimento sustentável, que resultaram no rebaixamento da nota. “Quem vai investir no Brasil com um presidente que sequer foi eleito? Qual investidor vai colocar o dinheiro no país com uma crise política sem precedentes, em que os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) brigam entre si por protagonismo e interesses?”, questiona Vagner.
O economista e professor da Unicamp, Eduardo Fagnani, também criticou a relação descabida feita pelo governo entre a nota de rebaixamento e a reforma. Segundo ele, fazer essa relação é desprezar o conhecimento acadêmico acumulado no país ao longo de todos esses anos.
“É uma estratégia baseada no terror, no medo, não se sustenta. O governo não tem mais argumentos para defender essa reforma e se baseia no terrorismo econômico, demográfico e na propaganda enganosa”, critica o economista.
Política econômica ou retirada de direitos?
O presidente da CUT, Vagner Freitas, ao desconstruir os argumentos falsos do governo, reforça, por diversas vezes, que a reforma da Previdência não tem relação com a política econômica.
“A não ser que este governo entenda como política econômica a retirada de direitos e não o crescimento da economia com distribuição de renda e geração de empregos”, ironiza.
“Quando dizem que querem fazer a reforma para recuperar a economia, querem recuperar a economia para quem, como, cadê a política econômica deste governo golpista?”, questiona Vagner, reforçando que o aumento do desemprego, do subemprego e da informalidade deveriam ser as maiores preocupações das autoridades de Brasília se eles quisessem realmente reforçar o caixa do INSS.
“Temer não tem nenhuma política de geração de emprego e renda, pelo contrário, o governo transformou emprego com carteira assinada em bico e o trabalhador sabe bem o que é bico, que é o trabalho sem direitos e mal remunerado, o trabalho sem contribuição ao INSS”, diz o presidente da CUT, que explica: “Quando falamos de política econômica, é disso que estamos falando”.
A avaliação de Vagner é referendada pelo professor da Unicamp, Eduardo Fagnani, que desconstrói o outro argumento utilizado pelo governo, que é o da economia de R$ 500 bilhões com a reforma da Previdência.
A explicação é simples e as contas a serem feitas também: se o governo pretende economizar R$ 500 bilhões em 10 anos (ou seja, R$ 50 bilhões por ano), conforme entrevista do secretário da Previdência, Marcelo Caetano, ao Valor Econômico desta segunda-feira (15), poderia atacar outras despesas, como os R$ 300 bilhões em isenção fiscal, os R$ 500 bilhões em sonegação, os R$ 400 bilhões de pagamento de juros por ano ou as isenções de impostos de cerca de R$ 30 bilhões por ano concedidas recentemente às petroleiras estrangeiras.
“Se somarmos apenas os exemplos citados, chegaremos ao total de quase R$ 1,2 trilhão ao ano, valor muito maior do que o economizado com a reforma da Previdência, que atinge direta ou indiretamente 100 milhões de brasileiros e tem um impacto social brutal”, diz Fagnani.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, explica que o alarde de que é urgente a reforma da Previdência se dá porque o governo precisa terminar de pagar a conta do golpe. "O setor financeiro foi um dos que mais apostou no golpe e tem interesse na previdência, pois enxergam a aposentadoria como negócio. Então a pressão em torno da reforma é pura e simplesmente negociata”, completa.
Fonte: CUT Brasil