Metalúrgicos realizam paralisações de advertência em várias fábricas do Estado

A indústria metal-mecânica já chegou a empregar cerca de 80 mil pessoas no Estado no começo dos anos 2000, mas essa capacidade de geração de vagas está se exaurindo. Desde 2014, o Sindicato dos Metalúrgicos do Estado (Sindmetal-PE) contabiliza aproximadamente 20 mil demissões nas empresas do setor em Pernambuco – 4,2 mil apenas no primeiro semestre deste ano. Pelo menos 20 empresas locais do segmento fecharam as portas desde 2014, sem contar as que reduziram drasticamente os seus quadros em razão da queda da demanda. 

Junto com as oportunidades, os antes atrativos salários do setor também ficaram mais restritos. Se o emprego de soldador já chegou a ser sinônimo de empregabilidade e bons salários no Estado, atraindo centenas de jovens que disputavam vagas em cursos de formação da área, hoje, quem consegue uma oportunidade encara um “salário inicial de pouco mais de R$ 1,6 mil na solda naval – uma das melhores remunerações, que chegava a mais de R$ 2 mil de salário inicial”, segundo o presidente do Sindmetal-PE, Henrique Gomes. “Em empresas com menos de 70 funcionários, o piso fica em pouco mais de R$ 1 mil”, apontou, explicando que muitas empresas criaram cargos intermediários de auxiliares e ajudantes para pagar menos.

As restrições também atingem quem conseguiu manter o emprego. Em crise, as empresas começaram a cortar benefícios como participação nos lucros e outras bonificações, a exemplo do auxílio faculdade. “Em alguns casos, mudaram o plano de saúde para um de qualidade inferior”, denunciou Gomes. Para não assistir ao esvaziamento total do segmento, os metalúrgicos querem garantias. 

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Em plena campanha salarial, pedem a estabilidade de, pelo menos, um ano no emprego, além de reajuste salarial de 9,1%, cesta básica e outros benefícios. Esta semana, a categoria realiza paralisações de advertência em várias fábricas do Estado. Nesta segunda-feira (18), eles cruzaram os braços por cerca de duas horas em três empresas: Gerdau (500 funcionários; Musashi (500 funcionários) e estaleiro Vard Promar (1,3 mil funcionários). Até o fim desta semana, novas manifestações devem acontecer em outras empresas do segmento. 

O movimento dos trabalhadores também se opõe à implantação das regras da reforma trabalhista, interpretada por eles como a 'supressão de direitos'. Dizem que os patrões querem restringir o uso dos refeitórios e o pagamento de horas extras, entre outros. “As empresas estão oferecendo 1% de reajuste salarial para salários até R$ 4,3 mil, algo que não cobre nem a inflação, e R$ 43 de ajuste para salários acima desse valor", listou o presidente do sindicato. "Também defendemos a manutenção de garantias para funcionários pré-aposentados, com mais de sete anos de empresa e para os que têm doenças relacionadas ao trabalho que aumentaram nos últimos anos”. 

Indústrias

Indústria de base, o segmento metal-mecânico representa atualmente 10,7% do Produto Interno Bruto da indústria de transformação, de acordo com a Federação da Indústria do Estado. Essa participação já chegou a 20%, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas do Estado (Simmepe), Sebastião Pontes. 

A perda de força é fruto da desaceleração econômica, cujos efeitos nocivos foram intensificados no Estado em razão da crise da Petrobras, com rebatimentos nos negócios da Refinaria Abreu e Lima e dos estaleiros locais. Além disso, outro componente para o esvaziamento do setor foi a desaceleração da construção civil, cuja demanda também movimentava a fabricação de estruturas metálicas. 

“As empresas de Pernambuco continuam em dificuldades. A chegada do Polo Automotivo não foi suficiente para suprir a demanda, considerando que ainda temos dois estaleiros que estão quase fechando. O Governo do Estado até tentou estimular arranjos produtivos, mas não é eficiente porque não há demanda”, avaliou Pontes. 

Além dos arranjos produtivos, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado informou que "vem acompanhando as dificuldades do setor e que existem tratativas recentes entre o governador Paulo Câmara e o vice-governador e secretário de Desenvolvimento Econômico, Raul Henry, com o BNDES, no sentido de garantir o planejamento a curto e médio prazo do polo naval instalado em Suape".

A situação das empresas, segundo o Simmepe, reverbera nas condições precárias dos trabalhadores. Para o vice-presidente do Simmepe, Alexandre Valença, o setor metal-mecânico, que precisou investir alto para fornecer peças de alta complexidade, como o setor naval, retroagiu. "Voltamos no tempo mais de 20 anos. Muitas empresas estão sucateadas, sem condições de operar”, avaliou. 

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