Rumo da JBS, maior empresa do grupo, é alvo de preocupação

Com Joesley Batista preso, os rumos do maior grupo privado do País, o conglomerado J&F, ficarão nas mãos de Wesley Batista, um dos donos da companhia e o presidente da JBS. Delator ao lado do irmão, Wesley não é alvo da investigação pedida por Rodrigo Janot e não tem sua colaboração ameaçada. Ele terá de liderar o fechamento da venda de negócios, necessária para garantir a sobrevivência da holding e da JBS, enquanto tenta manter-se no cargo. Sócio dos Batista na JBS, o BNDES quer sacá-lo do posto.

Uma série de reuniões estão previstas nesta segunda para definir os próximos passos. A ideia era que, no conflito com o BNDES, a J&F buscasse se antecipar, ingressando com o pedido de instauração de arbitragem logo no início da semana. A avaliação de fontes próximas à empresa é que a estratégia deve se manter, já que a permanência de Wesley na JBS tornou-se agora ainda mais fundamental para os Batista.

Wesley precisará cuidar ainda da conclusão da venda das linhas de transmissão da Âmbar para a Brookfield, que pode render R$ 900 milhões à J&F. Também terá de garantir que não desandem as negociações para a venda da Moy Park, operação crucial para a reestruturação financeira da JBS.

Outra frente de preocupação são as possíveis consequências da prisão de Joesley para o acordo de leniência firmado entre a J&F e as autoridades. O acordo foi homologado pelo Ministério Público Federal, mas a Justiça Federal do DF condicionou sua validade à manutenção da delação premiada no Supremo Tribunal Federal. Apesar de serem acordos independentes, há uma cláusula na leniência que prevê revisão ou cancelamento caso a colaboração dos executivos seja anulada.

Segundo pessoas próximas ao grupo, há receio sobre possíveis impactos da suspensão da delação de Joesley e Ricardo Saud, decretada pelo ministro Edson Fachin. Segundo eles, há risco de contaminação, mas, como se trata de algo inédito, há dificuldade em antecipar o que acontecerá. Dois deles, enumeram o que veem como pontos positivos para o grupo: o fato de Fachin ter pedido a prisão temporária (e não preventiva), o dado de que o advogado e delator Francisco de Assis está fora da ordem de prisão e, por fim, o fato de o ex-procurador Marcelo Miller não ter sido alvo de mandado de prisão (é a suposta ajuda de Miller na delação que baseia o pedido de prisão).

Há também dúvidas sobre a redação da cláusula do acordo que vincula a leniência às delações. Como são sete acordos de colaboração diferentes, ninguém sabe ao certo se apenas um ou todos eles precisam ser rescindidos para que a leniência seja de fato afetada. Além disso, se a eventual revisão implicar apenas no aumento da multa, os reflexos nas vendas de ativos devem ser limitados ou até nulos. Já se houver uma mudança mais drástica nos termos do acordo, compradores podem se sentir desconfortáveis e repensar a decisão. Desde junho, foram vendidas JBS Mercosul, Alpargatas, Vigor e Eldorado.

Na avaliação de pessoas próximas aos assessores da JBS, o pior cenário seria a saída forçada de Wesley do comando sem uma transição, o que causaria estrago em um setor marcado pela quebradeira de empresas. Wesley, além de dominar as questões operacionais da JBS, é quem tem concentrado as negociações de alongamento das dívidas com bancos – o contrato de refinanciamento foi assinado, mas a JBS ainda tem de concluir constituição de garantias – e as vendas de ativos, que estão encaminhadas, mas não foram sacramentadas.

(Fonte: O Estado de S. Paulo)

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