Deputados federais pernambucanos têm apoiado medidas de Temer
Fernando Filho, Mendonça Filho e Bruno Araújo ao lado de Michel Temer e Eduardo Cunha em evento do Governo Federal. / Divulgação Fernando Filho
A eleição de 2014 para o Congresso Nacional emplacou uma derrota para a esquerda. E em Pernambuco não foi diferente: poucos deputados comprometidos com o povo conquistaram mandatos. Após apoiarem o golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff (PT), parlamentares seguem apoiando medidas antipopulares do governo Temer a um ano de novas eleições nacionais. Também chama a atenção a divisão ideológica na bancada do PSB, partido com mais eleitos no estado.
O impeachment que derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff é um divisor de águas. Naquela ocasião, em abril de 2016, apenas seis dos 25 deputados federais de Pernambuco defenderam a continuidade do mandato da candidata eleita pela população. Foram eles Luciana Santos (PCdoB), Wolney Queiroz (PDT), Sílvio Costa (PTdoB), Ricardo Teobaldo (PTN) e Adalberto e Zeca Cavalcanti (ambos do PTB). Já Jorge Côrte Real (também PTB), foi a favor do impeachment, assim como os três deputados do PSDB, os seis do PSB, os dois do PMDB e os parlamentares do DEM, PP, PHS, PSD, SD e PR.
No fim de 2016 quando, a pedido de Temer, o Congresso votou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, a “PEC do Congelamento”, para congelar os investimentos sociais do poder público durante 20 anos, o número de deputados que votou a favor do povo e contra a reforma foi quase o mesmo: apenas cinco. Desses, apenas dois estão no grupo que defendeu o mandato de Dilma: Luciana Santos (PCdoB) e Wolney Queiroz (PDT). Também foram contra o congelamento de gastos Tadeu Alencar, Danilo Cabral e Gonzaga Patriota, todos do PSB. A outra metade da bancada do PSB foi a favor do congelamento.
Um sintoma da grande “adesão” dos deputados pernambucanos ao governo Temer é que quatro deles foram escolhidos para assumirem ministérios no governo não-eleito: Bruno Araújo (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Raul Jungmann (PPS) e Fernando Coelho Filho (PSB). Mendonça, inclusive, assumiu a pasta de Educação e, ainda no fim do ano passado, “empurrou” a polêmica reforma do Ensino Médio, sem debate com entidades representativas de estudantes ou de educadores. E mais uma vez o número de parlamentares do estado que se opuseram foi pequeno: Luciana (PCdoB), Wolney (PDT), Silvio Costa (PSB), Danilo Cabral (PSB) e Creuza Pereira (PSB).
Mas chama a atenção nessa votação o índice de sete deputados que se ausentaram da votação, sem se posicionar a favor do projeto de Temer e Mendonça. O descolamento acompanha o crescimento da organização e mobilização dos trabalhadores, que rejeitam as medidas de Temer. E a tendência se repetiu em março, quando os governistas colocaram em votação o projeto de lei da terceirização ilimitada, que também penaliza os trabalhadores. Oito pernambucanos foram contra e cinco se ausentaram, o que dá mais da metade da bancada do estado que não votaram com Temer. Em abril, nove pernambucanos foram contra a reforma trabalhista, que acabou aprovada. Do PSB, Danilo Cabral, Tadeu Alencar e Gonzaga Patriota foram conta.
PSB dividido
A bancada do Partido Socialista Brasileiro (PSB) está claramente dividida. Assim que o presidente sem votos Michel Temer assumiu, nomeou o deputado Fernando Bezerra Coelho Filho para o Ministério de Minas e Energia, o que contrariou parcela do PSB em Pernambuco. O ministro é filho do senador Fernando Bezerra Coelho, também do PSB, e tem base eleitoral em Petrolina, no Sertão do estado.
O partido está sem um grande líder desde a morte do ex-governador Eduardo Campos, em 2014, e os grupos locais tentam conquistar a hegemonia dentro do partido em Pernambuco. As disputas são por espaço dentro do partido, mas também por posicionar a sigla ideologicamente próxima às forças da direita ou mais à esquerda, junto às organizações populares e de trabalhadores.
O deputado estadual pernambucano Lucas Ramos (PSB) defende que o partido volte a se posicionar à esquerda. “Apesar de jovem, aprendi a história do partido”, afirma Ramos. O impasse no PSB teve início na eleição de 2014, quando o candidato presidencial Eduardo Campos faleceu em acidente aéreo e a candidata substituta Marina Silva não conseguiu avançar para o segundo turno. “Naquele momento estávamos discutindo mudanças e Eduardo Campos havia externado insatisfação com a gestão petista. Por termos falado muito de mudanças, o apoio ao PSDB foi uma alternativa e abraçamos a candidatura de Aécio”, recorda.
O candidato tucano Aécio Neves acabou derrotado pela petista Dilma Rousseff (PT). “Se esse posicionamento foi certo ou errado, não cabe a mim julgar. Mas se o partido fechou questão, todos têm de abraçar o projeto”, avalia. No processo de impeachment da presidenta, o PSB se manteve à direita, apoiando o golpe parlamentar, com algumas poucas exceções de deputados e senadores contrários à derrubada. Quando Temer assume, o partido define posicionamento “independente”, mas muitos parlamentares aderiram ao governo.
“O senador Fernando Bezerra Coelho indicou o seu filho deputado para o ministério, contrariando decisão do partido”, diz Lucas Ramos. Depois veio a disputa pela liderança do PSB na Câmara, quando o grupo de Paulo Câmara e Geraldo Julio indicou o pernambucano Tadeu Alencar, mas a eleita foi Tereza Cristina, alinhada com Michel Temer. “Os membros do PSB no eixo Sul e Sudeste, capitaneados pelo Márcio França, vice-governador de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, têm intercedido no sentido de apoiar o governo Temer”, diz o deputado pernambucano. “E o senador Fernando Bezerra Coelho está nesse grupo”, completa.
O racha também ficou claro na votação da reforma trabalhista, quando o diretório nacional da sigla se posicionou contrário à medida, numa votação de 20 votos contra 1 – o único favorável foi o senador petrolinense –, mas a votação na Câmara teve 14 deputados favoráveis à reforma, contra 16 contrários. “O meu entendimento é de que o PSB tem uma chance de se colocar contra essas reformas e retomar o histórico junto aos trabalhadores, já que o partido tem se afastado das lutas de classe, da luta sindical, da luta social”, acredita. “Temos uma chance de retomar a luta ao lado do povo brasileiro. E em Petrolina, minha cidade, a aprovação de Lula é de 83%, enquanto a de Temer é de 4%. Eu não posso ser contra o povo”, conclui.
Edição: Monyse Ravena