Na China, metalúrgicos da CUT fazem encontro inédito com Banco do Brics

Encontro na sede do Banco do Brics, em Xangai,

 

Pela primeira vez, uma delegação de sindicalistas é recebida na sede do Banco do Brics (bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para debater o desenvolvimento econômico pautado no estímulo à indústria.

Esse fato inédito aconteceu nesta quinta-feira (20), em Xangai, na China, quando representantes do Banco se reuniram com os metalúrgicos da CUT que estão em missão naquele país asiático, organizada pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (confira outras matérias no final).

Segundo Lírio Martins Segalla Rosa, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre (RS) e diretor da CNM/CUT, a delegação conversou com dirigentes do banco sobre os motivos do intercâmbio: conhecer a experiência chinesa de política industrial como indutora do desenvolvimento socioeconômico, para subsidiar as propostas dos trabalhadores para a criação do Instituto da Indústria no Brasil.

A criação do Instituto foi aprovada na plenária da CNM/CUT, realizada no final de junho, e sua consolidação será articulada com as demais entidades do ramo que integram o Macrossetor da Indústria da CUT (químicos, têxteis, construção e alimentação).

“Os representantes do Banco elogiaram nossa iniciativa e sugeriram que o debate que estamos iniciando seja ampliado, com a busca de parceiros estratégicos para impulsionar o Instituto. Também conversamos sobre os problemas que os trabalhadores e a sociedade estão enfrentando no Brasil”, contou Segalla.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba (SP), Leandro Soares, destacou que os dirigentes do Banco concordaram com os sindicalistas na premissa de que uma indústria forte é o motor para o desenvolvimento de qualquer país. “Eles também falaram sobre a instituição e os sete projetos que está financiando. No Brasil, o projeto é voltado para a energia renovável”, disse.

A delegação de sindicalistas brasileiros chegou em Pequim, capital do país, no último sábado (15), e também conta com o secretário geral da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira, os presidentes das Federações Estaduais dos Metalúrgicos da CUT de São Paulo e Minas Gerais, Luiz Carlos da Silva Dias e Marco Antonio de Jesus, e os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Rafael Marques, Nelsi Rodrigues (Morcegão) e Wellington Damasceno. Eles estão acompanhados pelos técnicos do Dieese André Cardoso (CNM/CUT), Luiz Paulo Bresciani (ABC) e Leandro Horie (CUT Nacional).

Com apoio da Câmara de Comércio de Desenvolvimento Internacional Brasil China, os metalúrgicos da CUT cumprem uma agenda de visitas a empresas de vários setores industriais e encontros com sindicalistas e representantes de universidades. E consideram a China um parceiro importante para subsidiar o debate sobre a política industrial brasileira.

Delegação brasileira na visita à empresa Yaming

 

Desenvolvimento social e juventude
Ainda nesta quinta, a delegação conheceu a fábrica de lâmpadas Yaming, também em Xangai. “O processo produtivo é semelhante ao brasileiro, mas, a exemplo das outras empresas que conhecemos, a pesquisa em inovação tecnológica faz parte da rotina empresarial. E o principal: a situação dos trabalhadores é bem melhor que a dos brasileiros”, assinalou Lírio.

A exemplo da percepção dos outros membros da delegação, o metalúrgico gaúcho disse que se surpreendeu com o visível desenvolvimento econômico do país. “Já percorremos mais de 2 mil quilômetros e, nos percursos, é possível observar o resultado concreto do papel do Estado como indutor de políticas públicas de desenvolvimento”, afirmou.

Já Leandro Soares ressaltou que a China também tem uma política forte voltada para a juventude. “Saímos da fábrica no final do expediente e vi muitos trabalhadores jovens, que aqui têm oportunidades e empregos garantidos”, afirmou.

Segundo o metalúrgico de Sorocaba, as províncias (que equivalem aos Estados brasileiros) investem na educação e formação profissional dos jovens, inclusive bancando cursos no Exterior. “E quando eles terminam os cursos, têm empregos garantidos, até em cargos de chefia, porque as províncias reservam vagas nas empresas. E isso faz com que haja pleno emprego para a juventude, diferente do Brasil, onde essa parcela de trabalhadores é a que tem menos oportunidades no mercado de trabalho e a principal vítima do desemprego”, disse.

De acordo com o levantamento Population Pyramid, hoje a China tem mais de 200 milhões de jovens, entre 18 e 29 anos.

Lírio e Leandro avaliaram que o modelo chinês é um exemplo para o Brasil na inclusão social baseada numa indústria forte. “É um projeto de desenvolvimento bancado pelo Estado, com políticas claras e de longo prazo, que está transformando a China numa grande potência mundial [ela representa sozinha quase 20% do Produto Interno Bruto global]”, afirmou Segalla.

“E é esse projeto que permite a inclusão, porque também as políticas públicas, como nas áreas de transporte, saúde e segurança também são fortes”, completou Leandro.

 

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