Lula fala de papel transformador da educação e da política em caravana pelo Norte de Minas

No trajeto de 110 quilômetros entre Araçuaí e Salinas, a etapa mineira da caravana Lula pelo Brasil repetiu, nesta quinta-feira (26), as paradas extras entre um compromisso e outro, movidas pela forte presença de populares ao longo do caminho ­– como na recente experiência do Nordeste. “Lula foi um homem que ajudou o povo, tirou a fome, e aqui todo mundo é muito grato por isso”, dizia o agricultor Plácido Loiola, ao explicar a emoção da filha Maria Gabriela, 8 anos, às lágrimas, ao acompanhá-lo na recepção ao ex-presidente. Plácido trazia também o filho cadeirante João Gabriel, 12 anos, quase do seu tamanho, e mencionava o impacto de programas como Fome Zero e Cisternas em suas vidas e nas comunidades da região habituada a enfrentar longas estiagens.

Nas mesorregiões de Vale do Jequitinhonha (20 cidades) e Norte de Minas (89 cidades) vivem quase 2,5 milhões de pessoas. O programa Cisternas, que atende também cidades das regiões Norte e Nordeste, intensificado a partir do governo Dilma em função das secas mais prolongadas, recebeu prêmio da ONU de política pública, por sua eficácia e sustentabilidade. A parada no bairro de Barreiro Grande, município de Rubelita, foi pedida pela comunidade. Com Plácido estava também seu tio José Nilson Miranda Lima, que além das caixas d’água, lembrava a “energia elétrica” trazida por Lula. “Tamo muito feliz que eles estão aqui com nós”, diz.

Eudoxia Gomes da Silva, lavradora de 40 anos, explicava o funcionamento e a importância da grande caixa captadora de água para quem vive ali. “Agora todo mundo tem plantação nos seus terreninhos, comida boa. Vocês não imaginam o que é passar dias e dias sem água pra beber, tomar banho. Muito sofrimento.” O vizinho Jovino Francisco Pereira Júnior concorda. “Por essas e outras, se 200 vezes Lula se candidatar a presidente, eu voto nele”. Assim como o metalúrgico aposentado Geraldo Procópio da Silva, ao falar da “honra” de Luiz Inácio Lula da Silva estar visitando sua: “Se fosse outro presidente ia era visitar a casa de um rico”.

Potência
As paradas em Rubelita e Coronel Murta, já na região do Norte de Minas, ocorreram depois da visita de Lula ao campus de Araçuaí (ainda no Vale) do Instituto Federal do Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas Gerais (IFNMG), pela manhã. Na unidade instalada na região durante o governo petista, Lula mais ouviu as pessoas do que falou. “Só a fala dos estudantes já mostra o acerto desses investimentos”, disse.

“Nós ficamos durante muitos anos sem financiamento para a educação profissional e só conseguimos garantir os recursos para a área durante o mandato de Lula”, afirmou a secretária de educação de Minas Gerais, Macaé Evaristo, observando que a área está sofrendo cortes do governo “ilegítimo” de Michel Temer. “Os investimentos estão todos ameaçados.”

“A gente sabe que o Brasil tem tudo pra crescer e se tornar potência por meio da educação”, diz a estudante de Agrimensura Lúcia Dias dos Santos, 15 anos, que vai se formar em 2019 no mesmo ano em que a mãe, Valdeane dos Santos, 34 anos, aluna de Administração. Valdeane teve Lúcia com 19 anos e conta que a proximidade e qualidade do instituto foi um dos fatores que a estimularam a voltar aos estudos. “O instituto vem para trazer educação e novas oportunidades para o Vale. Ele faz mais pessoas terem acesso à educação de qualidade, em uma esfera federal que era elitizada anteriormente”, conta.

Lula disse ser obrigação do Estado garantir educação de qualidade, da creche à universidade. “O que nós fizemos foi apenas fazer o óbvio. Investir em educação é um investimento para o resto da vida, que perpassa gerações”, afirmou, referindo-se à política atual de Temer, que trata áreas sociais vitais para o desenvolvimento do país como “gasto”.

A colega Giovana Luis Neiva, de 15 anos, diz que a visita de Lula é importante porque é uma chance de mostrar gratidão. “Ninguém nunca investiu o aqui. Nenhum presidente fez um dia o que o Lula fez por nós. Nós temos escolas bem estruturadas, a gente sai pronto para o mercado de trabalho”, celebra.

Abençoado
No caminho para a visita do campus de Salinas do IFNMG, a caravana parou à beira da estrada, próximo às aldeias indígenas Cinta Vermelha e Apucaré. Lula iria encontrar-se com a pajé Benvina Pankararu, que fizera uma reza durante sua primeira passagem na região, em 2002. Quem conta a história é Cleonice, ou Toakaninã Pankararu Braz. “Minha mãe fez um benzimento antes do Lula ganhar o primeiro mandato. Jogou energias positivas nele. E agora soubemos que vinha aqui para fortalecer nosso guerreiro. Para nós ele é uma pessoa destemida, respeitada, de muito valor, que não desiste dos pobres, dos índios, dos negros.”

As aldeias ficam na região de Coronel Murta, onde uma multidão aguardava o ex-presidente, no entroncamento entre a estrada e a entrada da cidade. Juscilene Jardim estava lá. Auxiliar de serviço da educação básica no município, abriu mão do horário de almoço. “Quando precisei, o Bolsa Família me ajudou. Hoje não preciso mais, tenho meu emprego, graças a Deus.”

Maiara Leite Souza Santos, 20 anos, estava no trevo, com a sogra, Maria José de Amorim, 48, e o filho Marco, de 9 meses. “Vim agradecer por Lula estar aqui na nossa cidade. Eu espero que ele vá ganhar, pra entrar na Presidência e tirar Temer”, disse, repetindo o que é um mantra nessas regiões mais carentes. “Desde pequena gosto dele. Fez muitas coisas pelas pessoas pobres.” Sacola na cabeça para se proteger do sol, Maria José estampava um sorriso. “Gostaria de ele ganhar de novo, pra fazer o que ele fez pelo Brasil. Sou mãe de família e ele não deixou faltar nada. Só posso agradecer.”

Educação e política
Em Salinas, Lula visitou o campos do instituto onde estudam 1.400 alunos presenciais e 3 mil à distância. “Ofertamos mais de 500 vagas anuais e temos nove cursos superiores. Até 2008, tínhamos apenas um curso. Só não temos ainda mais por conta de restrições. Atendemos bacharelados em engenharia, veterinária, sistemas de informação e temos o único curso de tecnologia de produção de cachaça do país”, disse o reitor José Ricardo Martins.

No campus, Lula conversou com alunos sobre o atual momento político do país. “O Brasil vive o momento mais pobre de formação política da história. E não é só no Brasil, é no mundo todo. A crise de 2008 não foi resolvida por falta de liderança política. As decisões foram terceirizadas. Fomos piorando a partir da boa geração da década de 1980. Hoje, o Congresso vive um momento difícil, o Supremo Tribunal Federal vive um momento difícil e o Executivo igual”, disse.

O  ex-presidente lamentou a ausência de partidos fortes e aproveitou para alfinetar o pré-candidato à presidência pelo PDT, Ciro Gomes. “O PT continua sendo o único partido de caráter nacional. Gostaria que tivéssemos três ou quatro partidos desta envergadura. Temos partidos de esquerda como o Psol, mas ele é mais focado no Rio de Janeiro. Temos o Ciro que é um companheiro que respeito muito, mas ele atira no próprio pé todos os dias. O PDT, na época do Brizola, se mostrou um partido de esquerda”, disse.

Diante do cenário, Lula vê sua candidatura como a mais viável. “Temos um legado. Nos 12 anos de PT o Brasil viveu seu melhor período na educação, na inclusão social”, disse. “Quadruplicamos o orçamento em educação, criamos o Fundeb, o Plano Nacional de Educação, o ProUni. Eles estão desmontando tudo, até o Fies, que não fomos nós que criamos, mas não existiam fiadores para os empréstimos. Colocamos o Estado como fiador”, disse. “Quando a garantia do Estado chegou a R$ 2 bilhões, acharam que era demais. Ora, como o Estado pode achar demais esse valor para financiar 4 milhões de estudantes, enquanto gastam R$ 12 bilhões para manter Temer na presidência? Então, é uma questão de prioridades.”

A passagem por Salinas foi encerrada às 17h54, com um ato público na Praça do Banco do Brasil. À noite, mais uma parada improvisada que virou ato político ante uma multidão em Francisco Sá. Nesta sexta-feira (27), quando ex-presidente completa 72 anos, estará em Montes Claros, a 220 quilômetros de Salinas.

“Vou fazer 72 anos e eles têm que saber que tenho disposição para brigar. Aprendi que o povo tem o direito de comer o melhor, de morar melhor, ter uma casa decente. O povo pode conquistar tudo de cabeça erguida se tiver alguém que tenha sensibilidade e comprometimento com ele”, disse. “Eu perdi eleições e ganhei. A Dilma ganhou, para provarmos que trabalhadores sabem governar melhor do que a elite brasileira.”

(Fonte: Rede Brasil Atual, com reportagem de Cláudia Motta em Minas Gerais. Colaboraram Felipe Mascari e Gabriel Valery)

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